“Não houve progressão do desenvolvimento embrionário em
relação ao exame prévio de 23\04\13) (IG: 10 semanas e 04 dias)”
Esta foi a conclusão do US, confirmando assim o que o meu
coração já sabia: meu bebê não tinha mesmo mais vida.
Saí da clínica com uma mistura louca de sentimentos. Medo,
tristeza, alívio.
Fui para casa, encontrei meu marido. Contei o ocorrido, fiz
sinal com o corpo inteiro de que eu necessitava de um abraço. Sem sucesso.
Chorei e fui para o consultório da velha GO. Aquela que me disse que a natureza
era sábia. Ela olhou tudo e me disse que era pra eu ir para casa e esperar para
que meu organismo expulsasse o meu bebê naturalmente. Caso isto não ocorresse
em 15 dias, era para procurar um hospital. Era para fazer o mesmo no caso de
febre. Fui para casa desnorteada.
Ter que ter uma rotina diante de algo assim foi como tomar
banho nua no polo sul. Algo completamente fora do comum.
As pessoas me viam e queriam saber como estava meu bebê.
Parabenizam a mim e meu marido e eu tinha que dizer a verdade.
No dia 04 de maio pensei ter sentido febre. Fiquei muito preocupada
e pedi ao meu marido que me levasse ao hospital. Ele se negou. Disse que não
tinha necessidade de sair de casa naquela hora da noite. Disse que parecia que
eu estava enlouquecendo e que era para eu me controlar. Morri por dentro.
Ninguém fazia ideia da minha dor. Mas ninguém tinha o direito de fingir que não
doía.
Fui ao PS, me consultei e um médico amável me confortou.
Disse que estava tudo bem comigo e que aquela febrezinha era, possivelmente de
cunho emocional. Me explicou como tudo iria acontecer e se mostrou preocupado
com meu estado. Isto me confortou como há muito eu não sentia.
11 de maio: “quadro ecográfico compatível com gestação
inviável”. Mais um US. O medico queria fazer uma curetagem. Eu disse que era
meu primeiro filho e que não queria me arriscar com um procedimento daquele
cunho. Ele me pediu para retornar em uma semana. O que não foi possível.
No dia 14 de maio, nova US: “abortamento retido”. O médico
plantonista resolveu me internar e usar o cytotec para que meu organismo
eliminasse.
Dia 17 de maio, outro US:”quadro compatível com abortamento
em curso”
Fiquei internada, usando cytotec por 7 dias. Não havia um
dia em que eu não chorasse. Não havia um dia em que eu não blasfemasse. Eu
simplesmente não entendia como eu podia estar ali ainda. Deus, me tira daqui! E
nada acontecia. A ideia da curetagem me apavorava. Eu que jamais havia ficado
internada e muito menos feito qualquer cirurgia, estava aguardando o pior
momento da minha vida.
Implorava a Deus que meu organismo reagisse e nada. Ora o
colo estava muito duro, ora estava ficando mole, mas nunca aberto. Não vi
sequer uma gota de sangue, não tive nenhuma dor física. Aquilo parecia um
pesadelo infindável. Medos, muito medos. Medo de infecções, medo da curetagem,
medo de nunca mais poder engravidar.
Medo de que a noite caísse e eu tivesse que acordar no dia
seguinte ainda na escuridão.
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