sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Na escuridão do dia

“Não houve progressão do desenvolvimento embrionário em relação ao exame prévio de 23\04\13) (IG: 10 semanas e 04 dias)”
Esta foi a conclusão do US, confirmando assim o que o meu coração já sabia: meu bebê não tinha mesmo mais vida.
Saí da clínica com uma mistura louca de sentimentos. Medo, tristeza, alívio.
Fui para casa, encontrei meu marido. Contei o ocorrido, fiz sinal com o corpo inteiro de que eu necessitava de um abraço. Sem sucesso. Chorei e fui para o consultório da velha GO. Aquela que me disse que a natureza era sábia. Ela olhou tudo e me disse que era pra eu ir para casa e esperar para que meu organismo expulsasse o meu bebê naturalmente. Caso isto não ocorresse em 15 dias, era para procurar um hospital. Era para fazer o mesmo no caso de febre. Fui para casa desnorteada.
Ter que ter uma rotina diante de algo assim foi como tomar banho nua no polo sul. Algo completamente fora do comum.
As pessoas me viam e queriam saber como estava meu bebê. Parabenizam a mim e meu marido e eu tinha que dizer a verdade.
No dia 04 de maio pensei ter sentido febre. Fiquei muito preocupada e pedi ao meu marido que me levasse ao hospital. Ele se negou. Disse que não tinha necessidade de sair de casa naquela hora da noite. Disse que parecia que eu estava enlouquecendo e que era para eu me controlar. Morri por dentro. Ninguém fazia ideia da minha dor. Mas ninguém tinha o direito de fingir que não doía.
Fui ao PS, me consultei e um médico amável me confortou. Disse que estava tudo bem comigo e que aquela febrezinha era, possivelmente de cunho emocional. Me explicou como tudo iria acontecer e se mostrou preocupado com meu estado. Isto me confortou como há muito eu não sentia.
11 de maio: “quadro ecográfico compatível com gestação inviável”. Mais um US. O medico queria fazer uma curetagem. Eu disse que era meu primeiro filho e que não queria me arriscar com um procedimento daquele cunho. Ele me pediu para retornar em uma semana. O que não foi possível.
No dia 14 de maio, nova US: “abortamento retido”. O médico plantonista resolveu me internar e usar o cytotec para que meu organismo eliminasse.
Dia 17 de maio, outro US:”quadro compatível com abortamento em curso”
Fiquei internada, usando cytotec por 7 dias. Não havia um dia em que eu não chorasse. Não havia um dia em que eu não blasfemasse. Eu simplesmente não entendia como eu podia estar ali ainda. Deus, me tira daqui! E nada acontecia. A ideia da curetagem me apavorava. Eu que jamais havia ficado internada e muito menos feito qualquer cirurgia, estava aguardando o pior momento da minha vida.
Implorava a Deus que meu organismo reagisse e nada. Ora o colo estava muito duro, ora estava ficando mole, mas nunca aberto. Não vi sequer uma gota de sangue, não tive nenhuma dor física. Aquilo parecia um pesadelo infindável. Medos, muito medos. Medo de infecções, medo da curetagem, medo de nunca mais poder engravidar.
Medo de que a noite caísse e eu tivesse que acordar no dia seguinte ainda na escuridão.






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